terça-feira, 12 de abril de 2011

Nunca foi, embora seja tudo assim.


Agora mesmo eu vinha vindo, andando pela rua,
e tentei inventar algumas palavras.
Liguei para mim mesmo, e disse que eu não estava.
Depois gritei do outro lado da linha, do outro lado da vida,
dizendo que eu estava sim, é que eu não queria atender.
Aí, desliguei o telefone, e comecei a rir,
fui até o correio e remeti uma carta para mim mesmo.
Mas coloquei o endereço errado, para ficar apreensivo e nervoso,
esperando essa carta que não vai chegar nunca.
Daqui a pouco vou fazer uma reunião comigo mesmo,
para traçar um plano de vida. Não faz sentido.
Acho que não enlouqueci e ainda não me comuniquei.
Não é engraçado. Nunca foi, embora tudo seja assim.
Quando eu me lembrar, vou dizer e gritar mais alto
este desencanto e esta maneira de ser.
Hoje não consigo,
será mesmo inútil inventar outra frase para situar as coisas.
Hora de parar,
mesmo porque as palavras morreram dentro de mim
- como tantas outras coisas morreram,
sem que eu pudesse fazer nada.

R.Lopes

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